Depois das
primeiras 48 horas e de ter me dado conta de que meus gatos já haviam
corrompido a técnica de apresentação ideal entre felinos, registrei dia a dia a
interação deles, pois para quem curte comportamento felino é fascinante
observar como eles respondem ao ambiente, a nós e aos futuros companheiros.
11/11/2012
– Algo aconteceu durante a madrugada. O Gaspar começou a noite dormindo no
tapete da biblioteca, bem perto do quarto. Em um dado momento senti que a Fiona
saiu da cama. Pelos sinais de hoje pela manhã, acredito que ela tenha descido
para ir na caixa de areia, mas o Gaspar deve ter ido atrás e ela acabou fazendo
cocô e não teve tempo de cobrir. Ela não voltou mais para a cama até sentir que
eu estava acordada, de manhã, e o Gaspar miou intermitentemente das 3h30 até às
7h30, querendo atenção. É um miado que
‘chama’. Dormi mal, mas não levantei porque penso que ele não deve entender que
devo atendê-lo sempre que quiser. Além
do mais, acho que o objetivo maior dele é a amizade da Fiona, já que hoje ele
repetiu alguns rituais para demonstrar para ela que se submete (se bem que,
mesmo não sendo felina, mas já tendo convivido o suficiente com eles, penso que
ele está fazendo o jogo da humildade para depois tentar se impor. Ele não tem
jeito de gatinho submisso J).
Também, já
pude notar uma certa tranquilidade na Fiona, embora o mau-humor e intolerância
ao Gaspar continue. Hoje ela foi normalmente até a cozinha comer, enquanto
coloquei o Gaspar na área de serviço (ainda não desmanchei a caminha que fiz
para ele ali, onde também está a caixa de areia, comida e água para ele) e
fechei a porta para ela saber que comeria em paz. Quando abri a porta para ele
sair, estava deitado e continuou ali, tranquilo. Vendo o Gaspar quieto, a Fiona
até deu uma parada para olhar para ele e depois foi deitar no encosto do sofá,
de onde poderia observar o ‘inimigo’.
Ela também
tem demonstrado calma quando vê que estou fazendo carinho no Gaspar. Hoje ele
deu uma mordidinha na minha mão de novo, enquanto eu tirava pedrinhas da areia
no pêlo. Ok. Ele também me mostrou que queria a comida igual a da Fiona quando
se serviu do prato dela. Quando coloquei a mesma ração no prato dele, na área,
ele foi até lá e comeu e não ligou mais para o prato dela. Bom sinal de
respeito!
Mais tarde,
enquanto eu lia o jornal, a Fiona veio
para o meu colo e o Gaspar deitou no chão mais ou menos a um metro e meio de
distância. Ela fez menção de querer correr com ele, mas segurei e a acariciei.
Ela acalmou e ficou só observando enquanto ele não olhava diretamente para ela
(quando faz isso, ele deita com o corpo de lado), manteve o rabo relaxado e
ficou bem quieto. Foi um momento de vibrações positivas, embora meio tensas. A
tensão positiva do ‘quero te conhecer melhor antes de te dar liberdades’.
Quando
sentei na cama para ler meus emails, a Fiona veio junto e o Gaspar ficou miando
pela casa novamente, pois ele sabe que ainda não pode subir na cama. Chamei várias vezes, mas ele pareceu nervoso
e se sentindo abandonado. Como ontem à noite eu já tinha colocado uma almofada
no chão para ele, fui para o chão, chamei e mostrei a almofada para que ele
deitasse. Ele entendeu, deitou, aceitou uns carinhos nas laterais do pescoço,
se acalmou e adormeceu. A Fiona observou todo o processo tranquilamente, de
cima da cama. Quando voltei para o lado dela, ela também se ajeitou do jeito
relaxado de sempre, barriga para cima, e adormeceu.
Eu já
desconfiava, mas agora que tenho plena visão do Gaspar dormindo, noto que ele
deve ter passado por momentos muito estressantes, pois volta e meia acorda
miando baixinho. Mas também pode ser o medo da rejeição, do abandono. Sempre
que ele acorda assim e olha para mim, faço o olhar de ‘eu te amo’ (olhar nos
olhos dele, piscando bem devagar) e ele volta a fechar os olhos e adormecer.
Hoje também
dei para o Gaspar uma bolinha com um ratinho dentro. No início ele fez de conta
que não queria nada com aquilo, mas quando deixei ele sozinho, vi que brincou e
se divertiu muito caçando o ratinho dentro da bola.
Não sei
quantos dias/capítulos terá esta adaptação, mas está me parecendo que não serão
tantos quantos eu pensava.
12/11/2012
– Hoje comecei a notar que a Fiona já está aceitando melhor a presença do
Gaspar e ele até arriscou uma brincadeira de se esconder do lado de fora do
banheiro pra assustá-la quando saísse, mas de alguma forma ela sabia que ele
estava ali e foi ela quem o assustou, olha só! Hahaha!
O Gaspar
ainda respeita os espaços da Fiona e não tentou mais subir na minha cama. E eu
aprendi mais um pouco sobre ele. Eu tinha ficado preocupada com os miados
fortes que ele faz quando está sozinho em um ambiente, pois achei que ele
estava sentindo alguma dor. Mas ao mesmo tempo eu reconhecia aquele tipo de
miado como o miado de “chamada” . Finalmente entendi que ele detesta ficar
sozinho. Se muda de ambiente quer que alguém vá com ele. Chama. Se ninguém vai
até ele, ele vem e se junta a nós.
O Gaspar
gostou muito do passarinho-bola que improvisei e pendurei na estante dos
livros. Hoje também foi o primeiro dia em que vi ele tirando um soninho longo à
tarde, sem despertar assustado a todo momento. Dormiu em silêncio e bem
relaxado. À noite, dormiu praticamente o
tempo todo, mas ele tem o hábito de acordar por volta de 4h15 da manhã e chama
querendo companhia.
Ele é um
comilão! Ai, ai, ai.. vou à falência assim.
13/11/2012 –
Dia mais feliz aqui em casa. A Fiona não consegue mais disfarçar que já aceitou
o Gaspar como amigo, mas como toda mulher,
ela faz charme e se aproxima e deixa ele se aproximar só um pouquinho. De manhã ela se esparramou deitada de barriga
para cima no tapete onde ele costuma afiar as unhas. Implicante ela, não?
Sabendo do perigo, ele foi lá e cheirou uma das patas de trás, que ela retirou
imediatamente de perto do focinho dele, mas nem por isso deixou de ficar bem à
vontade.
De tarde
notei que ambos estão misturando seus cheiros, usando a caixa de areia um do
outro e comendo e bebendo água nos pratos um do outro. Detalhe, os pratos do
Gaspar ficam na área de serviço e os dela na cozinha. Mesmo assim se dão ao trabalho
de comerem um pouco em cada um. Revezamento de ‘restaurante’.
De tarde
resolvi acatar a sugestão da Pam Johnson
e praticar um pouco de Terapia do Brinquedo. Segurei um ‘passarinho’ em
cada mão. Esses ‘passarinhos’ são brinquedos pendurados por fios longos a uma
varinha flexível, que facilita a mudança de movimentos durante a brincadeira.
Eles adoraram. Comecei com os dois ‘passarinhos’, mas quando vi que eles
estavam se alternando para brincar com o mesmo, deixei um deles de lado e
estimulei eles a brincarem juntos. Deu certo e foi muito divertido ver a Fiona,
que há muito tempo não saltava para brincar, saltando bem alto como o Gaspar,
para ver quem caçava primeiro. Depois de algum tempo, o Gaspar saltava e volta
e meia batia com o corpo na Fiona e ela ficava braba. Mas fiz com que a
brincadeira terminasse bem, levando eles a acalmarem, só puxando o ‘passarinho’
pelo chão até eles perderem o interesse. Guardei os passarinhos sem saber quem estava mais contente com o
sucesso da Terapia do Brinquedo, se eu ou eles.
Hoje também
dei mais um pouco de colo para o Gaspar, desta vez sentada no sofá da sala,
onde a Fiona costuma sentar comigo. Ela veio até a sala, viu ele no colo,
cheirou a ponta do rabo dele e foi olhar a paisagem na porta da rua, perto de
nós, mas sem irritação.
Acho que
hoje, 4 dias depois da chegada do
Gaspar, posso considerar um sucesso de rapidez surpreendente a adaptação de
dois gatos adultos, com personalidades fortes, embora ainda não possa considerá-los
amigos íntimos. Mas sei que isso vem com o tempo
14/11/2012,
considero missão cumprida com sucesso, a aproximação do Gaspar e da Fiona. De
manhã, enquanto me arrumava para trabalhar, vi os dois correndo pela
casa,brincando de pega-pega. Quando voltei à tarde, a Fiona deitou um pouco
comigo para descansar e consegui com que o Gaspar subisse na cama, pelo lado
oposto ao que ela estava, e abracei os dois, um com cada braço. Assim não houve
ciúme. Sei que essa amizade ainda tem muito a progredir, mas já estou feliz com
o que vejo.
E 15 dias depois. . .